O seu filho sabe programar?

Publicado a 5/30/2014 por Knowledge Inside em Opiniao
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Agora que sou pai e que me preparo para a odisseia da entrada dos pequenotes na vida escolar à séria, começo a reparar com mais atenção nas metodologias do ensino em Portugal e no que posso esperar das mesmas para o desenvolvimento das minhas crianças. O que encontro, para ser sincero, não me entusiasma muito.

O que espero para os meus filhos é que os mesmos sejam autónomos, decididos, empreendedores, criativos e apaixonados naquilo que decidirem fazer na sua idade adulta. Para isto, a escola poderia ter um contributo mais ativo. Em vez de apenas esperar repostas óbvias da matéria aprendida, os educadores poderiam encontrar espaço para deixá-los criar e principalmente errar. Errar e voltar a errar. Só assim se fomenta a criatividade e a autoconfiança. Mas como conseguir isto? A resposta pode ser mais simples do que parece.

Vivemos numa época em que a tecnologia domina as nossas vidas. Os nossos filhos tratam a tecnologia por tu e são até considerados “Digital Natives”. Para estes miúdos, a facilidade de lidar com computadores e a internet é enorme e, nesta tenra idade, esta atividade está normalmente associada a diversão.

Então do que estamos à espera para rentabilizar esta inata capacidade? Vamos deixar que seja apenas utilizada para descarregar apps e músicas, executar jogos e mandar mensagens?

Para serem realmente letradas em tecnologia, estas crianças devem aprender linguagens de programação durante o ensino básico. Esta deveria ser uma disciplina tão importante como o estudo do meio ou a matemática. Não estou com isto a dizer que todos se devem tornar programadores, da mesma maneira que a maioria não se tornam matemáticos ou historiadores.

É crucial que, por um lado, os nossos filhos entendam o que está por trás de toda a tecnologia e aplicações que utilizam todos os dias e, por outro lado, que sejam estimulados a criar, a pensar de forma sistemática e que, acima de tudo, não tenham medo de errar e que entendam que o erro faz parte do processo. Só aqueles que erram é que são bem-sucedidos. Isto (o erro) é uma característica que a programação tem de forma inerente. Quando se está programar, o erro e a correção do mesmo faz parte do processo. É altamente estimulante para a criança ultrapassar um problema da sua própria criação. Esta é a característica que os pequenos programadores relatam como mais entusiasmante da utilização de linguagens de programação.

Convencidos? Então mas como pôr isto em prática?

É mais fácil do que pode parecer. Existem na internet linguagens específicas para crianças, prontas a usar através de um simples browser. São linguagens totalmente visuais em que os operadores, ações e blocos encaixam entre si, visualmente e através de cores. Tudo parece ser um simples jogo com uma causa/efeito direta no objetivo, seja ele a movimentação de um boneco, um cenário eletrónico, um som ou um jogo completo. Quando as coisas não correm como esperado, retiramos os blocos e reajustamos, como se fosse Lego.
O melhor exemplo de uma linguagem visual é o Scratch. Criado pelo Media lab do MIT, é uma linguagem de programação idealizada para crianças entre os 8 e os 16 anos. Disponível em Português, o Scratch assenta numa comunidade online na qual as crianças podem programar e partilhar multimédia interativa, tal como histórias, jogos e animações, com pessoas de todo o mundo. À medida que criam com o Scratch, as crianças aprendem a pensar de forma criativa, a trabalhar de forma colaborativa e a pensar de forma sistemática.


Tomei conhecimento desta linguagem através de um vídeo do TED de um dos fundadores da linguagem, Mitch Resnick, com o tema “Let’s Teach Kids to Code”.



Fiquei fascinado e, depois de investigar, verifiquei que já existe uma larga comunidade de educadores à volta desta plataforma, que se mantém totalmente apoiada pelo MIT. No site scratch.mit.edu encontramos uma área e conteúdos específicos para escolas e educadores que cresce de forma exponencial. Vão surgindo um pouco por todo o mundo ambientes de aprendizagem formais e informais impulsionados por professores, investigadores e pais. Por cá, tenho conhecimento da existência do CoderDojo LX, que está a impulsionar e a ensinar jovens a programar de forma aberta, livre e gratuita. Para quem tem crianças a partir dos 7 anos vale a pena dar um salto à Universidade Europeia a um sábado e ficar a saber como funciona: http://www.coderdojo-lx.pt.

Cabe-nos a nós, em Portugal, impulsionar este conceito nas redes sociais, nas escolas e noutros locais para que a aprendizagem livre e gratuita de linguagens de programação se torne uma realidade para os nossos pequenos “digital natives”.

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